quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Cruz na História Protestante e Mórmon


Imagem: http://rationalfaiths.com/upon-the-cross/

A cruz é considerado um símbolo herege dentro da maioria das denominações evangélicas no Brasil. Entre os santos dos últimos dias o conceito é o mesmo. Tanto em edifícios da Igreja como membros não usam o objeto. Porém, na história protestante e SUD nem sempre foi assim. Nos Estados Unidos no século XIX e XX evangélicos e SUDs tiveram uma história de uso do símbolo que se tornou um tabu entre eles e nós brasileiros. 


1-Cruz no protestantismo

A Reforma Protestante teve seu início com o monge
 católico alemão Martinho Lutero em 1517. O símbolo do luteranismo é uma cruz dentro de uma rosa. Na época o uso da cruz significava apenas que era um cristão e com isso outras denominações reformadas em sequência também a usaram e usam. Apesar de no alto de muitas congregações existir o símbolo, luteranos não o usam em pulseiras ou colares. Há algumas escrituras que mostram o porquê da não rejeição ao símbolo:

"Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á".-Mateus 16:24:25

"Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos".-1 Coríntios 1:23

"Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo".-Gálatas 6:14

Versículos como os citados eram um incentivo ao uso do símbolo seria um lembrete externo do voto pessoal de "tomar sua cruz e seguir em frente".


2-Cruz no Mormonismo

Os primeiros conversos da Igreja eram obviamente protestantes. Muitos primeiros líderes SUD vieram de denominações protestantes como o batista Lorenzo Snow ou o metodista Brigham Young. Era comum o uso do símbolo entre os pioneiros por costumes pessoais já vindos de outras denominações. Dois exemplos claros são o de Amelia Young e do irmão Benjamin F. Johnson que em várias fotos está com uma cruz na lapela de seu paletó.


Amelia Young
Benjamin F. Johnson


3-O início da rejeição protestante

Segundo Michael G. Reed que é bacharel em artes humanas e estudos religiosos, tudo começou nas décadas de 1820-1850 quando o número de católicos nos EUA cresceu muito se tornando o maior grupo religioso. Nessas décadas alguns grupos protestantes resolveram não usar o símbolo tido como católico. Porém, nos anos de 1870 passaram a usar normalmente o símbolo que ainda é usado em muitas denominações.  


4-Cruz no Brasil

Nosso país foi colonizado por portugueses que junto com italianos e espanhóis são extremamente católicos. A religião se tornou oficial aqui sendo proibida a entrada de uma outra religião. Com a vinda da família real portuguesa e o reinado de Dom João VI (1808-1822)  houve possibilidade de outras religiões virem ao país mas, sem nenhum proselitismo. 

Somente no século XX o protestantismo chegou a ser de fato estabelecido e um dos disseminadores foram os missionários suecos Gunnar Vigren e Daniel Berg. Em 1911 fundaram a "Assembleia de Deus" em Belém, Pará. Não se pode ter certeza mas, um dos pontos em que no Brasil o símbolo é rejeitado por evangélico seja por toda a história o catolicismo ter sido religião oficial do país e a visão que ela era um objeto de católicos.


 Daniel Berg e Gunnar Vingren 

5-O início da rejeição SUD

Michael G. Reed é bacharel em artes humanas e estudos religiosos pela Universidade Estadual da Califórnia e escreveu o livro Banishing the Cross: The Emergence of a Mormon Taboo, que conta curiosidades do símbolo e os mórmons durante a história. Em entrevista ao Jornal Deseret News  ele conta que 
tudo começou em meados do ano de 1916. O trabalho missionário estava sendo difícil em países católicos como o México. Isso fez com que alguns membros locais adquirissem um sentimento anti-católico. 

Nesse mesmo ano a Igreja teria feito um pedido a prefeitura para que cosntruísse um monumento  ao pioneiros em forma de cruz no "Ensign Peak"(Pico Estandarte). Porém, duas semanas antes do pedido ouve um embate determinante para a não construção do monumento.

O bispo católico Joseph S. Glass criticou os mórmons de Salt Lake por organizarem bailes no dia da sexta-feira santa. Segundo ele: "Não existem cristãos suficientes em Salt Lake City, para terem algum tipo de respeito geral para o dia mais sagrado do ano?"


Tal protesto ofendeu os SUDs da cidade que como hoje em dia não guardam esse feriado católico. Alguns cidadãos de outras denominações acharam uma ousadia do clérigo e isso, fez com que muitos se opusessem a construção do monumento, que após quase 100 anos não foi construído. No Emigration Canyon foi construído o monumento em homenagem a eles em uma forma que lembra um pouco uma cruz.


"Este é o lugar", monumento em homenagem aos pioneiros locais.

Por mais 40 anos alguns membros usavam e outros não o símbolo. Ele destaca o fato de  que em 1957 uma joalheria em Salt Lake ter anunciado jóias femininas em forma de cruz. O Bipo Presidente Joseph L. Wirthlin conversou com o Presidente David O. McKay para ver se era apropriado moças SUD comprarem tais jóias. McKay deu duas razões para não ser uma boa ideia. Ele disse  que as cruzes eram "puramente católicas e moças SUD não deveriam comprar e usá-las. (...) Nossa adoração deve ser em nossos corações" concluiu.

Em 1975, o Presidente Gordon B. Hinckley, na época membro do Quórum dos Doze, na Conferência Geral no discurso intitulado "O Símbolo de Cristo" falou sobre a cruz. Ele reconhecida e respeitada como outras igrejas exibir o símbolo, e disse: "Mas, para nós, a cruz é o símbolo da morte de Cristo, e nossa mensagem é uma declaração do Cristo vivo".


6-Posição oficial e atualidade

Atualmente temos como posição oficial o que está escrito no livreto "Sempre Fiéis: Tópicos do Evangelho", (2004), pp. 51–52:

"A cruz é usada em muitas igrejas cristãs como símbolo da morte e Ressurreição do Salvador e como sincera expressão de fé. Como membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nós também lembramos com reverência o sofrimento do Salvador. Porém, uma vez que o Salvador vive, não usamos o símbolo de Sua morte como símbolo de nossa fé".

Sobre o uso do símbolo é explicado algo que é mais importante:

"A sua vida deve ser a expressão de sua fé.(...) Aquelas pessoas que se associam com você devem ser capazes de sentir o seu amor pelo Salvador e por Sua obra". 

Atualmente a Igreja SUD dá ênfase ao que ensinou o Presidente Joseph Smith Jr. onde prega ser contra o preconceito religioso e a favor da liberdade religiosa. Ano passado líderes SUD e de outras religiões se reuniram no vaticano para debater o tema família.

Reed conclui a entrevista com a seguinte conclusão:

"
Hoje os membros da Igreja SUD se concentram no corpo e sangue de Cristo mais do que os pregos e madeira. A cruz não pode ser usado como um símbolo especial para fora mais do que a coroa de espinhos, o chicote e a lança. Mas os pensamentos sobre a cruz e o que ela é, ainda parece causar assombro entre os Santos dos Últimos Dias".

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