domingo, 30 de outubro de 2016

Mórmons e Missourianos na eleição municipal de Gallatin


Pintura retratando o ocorrido em 06 de agosto de 1838

Hoje em boa parte das cidades grandes e capitais do país está ocorrendo o segundo turno das eleições municipais. Foi num dia de votação de uma pequena cidade missouriana que aconteceu uma das brigas históricas entre membros e população local. Um manual do instituto conta o que aconteceu:

"Quando o condado [de Daviess] foi criado, em 1836, ainda havia menos de cem colonos. A cidade de Gallatin foi planejada para ser a sede do condado e à medida que ela crescia, Millport, que ficava a cinco quilômetros a leste entrou em declínio. Os santos começaram a mudar-se para Adão-ondi-Amã, cerca de seis quilômetros e meio ao norte de Gallatin, no verão de 1838. Rapidamente ultrapassaram o número de gentios no condado de Daviess.

O ano de 1838 era ano de eleição. Os antigos moradores naturalmente queriam eleger um legislador que fosse um dos seus. William Peniston, renitente inimigo dos santos, era candidato. Ele tinha medo que o rápido influxo de mórmons o impedisse de ganhar a eleição, pois a maioria dos membros da Igreja apoiava John A. Williams. Cerca de duas semanas antes da eleição, o juiz Joseph Morin, de Millport, aconselhou dois élderes da Igreja a irem para a urna “preparados para enfrentar um ataque” do populacho, que estava decidido a não permitir que os mórmons votassem.(History of the Church, Vol. 3. p. 56.) A eleição seria realizada em 6 de agosto, segunda-feira, em Gallatin, que na época não passava de uma fileira de “umas dez casas, três das quais eram botequins”.(Missouri: A Guide to the “Show Me” State, ed. rev. [Nova York: Hastings House, 1954],
p. 510.)

Esperando que a previsão do juiz não se cumprisse, alguns mórmons foram desarmados para Gallatin a fim de votar. Às 11h, William Peniston fez um discurso para uma multidão de eleitores, procurando incitá-los contra os mórmons: “Os líderes mórmons são um bando de ladrões de cavalos, mentirosos, enganadores; todos sabem que eles alegam curar doentes, expulsar demônios, mas vocês sabem que tudo isso é mentira”.(History of the Church, Vol. 3. p. 57.) Os dias de eleição raramente eram ordeiros, mas com o discurso inflamado de Peniston e algumas pessoas da multidão embriagadas com uísque, era inevitável que ocorresse uma briga. Dick Welding, o valentão do populacho, acertou um soco em um dos santos e derrubou-o ao chão.

Começou uma briga. Apesar de estarem em inferioridade numérica, um dos mórmons, John L. Butler, agarrou uma estaca de madeira de uma pilha de lenha próxima e começou a acertar os moradores locais com uma força que surpreendeu até ele mesmo. Os missourianos armaram-se com paus e tudo que estava à mão. Durante a luta que se seguiu, várias pessoas ficaram bastante machucadas, em ambos os lados. Apesar de poucos mórmons terem conseguido votar naquele dia, ainda assim Peniston perdeu a eleição".


Fonte: MANUAL História da Igreja na Plenitude dos Tempos, 2ª edição, págs. 193-194.

domingo, 18 de setembro de 2016

10 Coisas que os Mórmons e Game of Thrones Têm em Comum

   
    



"Game of Thrones" (Jogo do Trono) é uma série inspirada e adaptada na série dos livros "A Song of Ice and Fire" (As Crônicas do Gelo e Fogo) escritos por George R. R. Martin . A Rede HBO de Tv criou a primeira temporada em 2011 e já na sexta temporada em 2016 se tornou um sucesso no Brasil e no mundo. Nesse ano na premiação do Emmy levou 9 troféus se tornando a série dramática mais vencedora com 35 estatuetas

Fãs estão ansiosos pela 7ª Temporada que se iniciará em junho/julho de 2017. Apesar das duras críticas do teólogo John Piper e do puritanismo cristão, a série é vista por muitos outros cristãos, inclusive mórmons. Até mesmo os autores de "A Terra Prometida" da Rede Record de TV se inspiraram na série da HBO.

Há alguns elementos no seriado que se assemelham com os SUDs/mórmons ou com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Eis minha lista de 10 coisas que mórmons e Game of Thrônes tem em comum:


1-Templos

Na capital "King's Landing" (Porto Real) da fictícia Westeros, o símbolo da religiosidade da religião da "Fé dos Sete" é o Grande Septo de Baelor ou simplesmente Septo. Ele é como um Templo para a população onde estão as imagens sagradas dos 7 deuses novos. Também nele são realizados casamentos da nobreza e funerais também.


Grande Septo de Baelor em destaque.


Interior do Septo com as imagens dos 7 deuses em meio a um funeral.

Mórmons também têm seus templos como local sagrado. Neles são realizados selamentos (casamentos) por toda a eternidade. É um local de aprendizado sobre o plano de salvação e, somente os membros fiéis tem autorização para frequentá-lo.


Templo de Salt Lake City, capital de Utah.
 É o símbolo da religiosidade mórmon da cidade e estado.

Templo de São Paulo, capital. Primeiro da América do Sul.

2-Missão

A guarda da noite é um grupo de soldados que tem a missão de proteger a muralha de Westeros e seus 7 reinos contra os ataques dos temidos selvagens. Fazem um juramento de por toda a vida ser um guarda. Há algumas semelhanças e diferenças entre eles e os missionários.



Guarda da Noite

Os missionários são em maior parte o que fazem ser conhecido o apelido mórmon. Eles tem como missão "encontrar" os eleitos de Deus mostrando as pessoas o que acreditam. Há em partes uma hierarquia e uma organização que lembra um exército, tal como os Jesuítas nos tempos da colonização.


Missionários Mórmons.

3-Pregação Religiosa

Em Westeros a religião do "Senhor da Luz" tem seus sacerdotes que pregam para escravos, meretrizes, e camponeses comuns. Para eles o único e verdadeiro deus seria esse. Seus sacerdotes e sacerdotisas vestem de vermelho e são facilmente reconhecidos.


Sacerdotisa vermelha (Rila Fukushima) pregando para escravos.

Como mostrado acima os missionários através de sua pregação, tornaram-se conhecida a Igreja. É fácil reconhecer os jovens pela camisa branca e plaqueta preta.

4-Conselheiros importantes

O rei de Westeros tem um conselheiro. Como o próprio nome diz sua função é "aconselhar" na solução de problemas e dificuldades. Numa viagem ou doença do rei, o seu conselheiro assume seu lugar na liderança do seu reino.


Tywin Lannister (Charles Dance) com seu broche de conselheiro real.
Nesse episódio assume um julgamento por conta
 do rei Tomem Baratheon ser menor de idade.

Na Igreja SUD seu Presidente também conhecido como profeta tem dois conselheiros. No caso de alguma doença eles que presidem a Igreja como aconteceu nos tempos finais da vida de Spencer W. Kimball e Ezra Taft Benson.


Presidente Thomas S. Monson e seus conselheiros
Henry B. Eyring e Dieter F. Utchdorf

5-Os Deuses

A "Fé dos Sete" ou "A Fé" acredita que há 7 deuses que são personificações de um mesmo deus. O que seria um unicismo. Os seus deuses e significados são os seguintes:

"O Ferreiro" representa os dons e o trabalho.
"A Velha" representa a sabedoria.
"A Donzela" representa a inocência e castidade.
"O Guerreiro" representa a força nas batalhas.
"A Mãe" representa a maternidade e piedade.
"O Pai" representa o julgamento.
"O Estranho" representa a morte e o estranho.


Representação dos 7 deuses.

Mórmons acreditam no Pai, no Filho (Jesus Cristo) e no Espírito Santo. Os batismos são realizados em nome dos 3 seres. Diferente de cristãos unicistas que creem que os 3 são personalidades de um Deus, ou do trinitaristas que creem serem 3 seres distinto mas um só Deus, SUDs acreditam que os 3 seres são distintos e 3 deuses. O conjunto seria corretamente conhecido como "deidade". Isso os torna triteístas.

Curiosamente a maioria dos cristãos sendo trinitarianos explicam Deus como sendo unicistas.

6-Princípios de Conduta Moral

"A Fé" tem seus princípios como castidade, não adulterar, não matar, não ter relações homossexuais, etc. Isso está no seu livro sagrado "A Estrela de Sete Pontas". Quando um fiel é acusado de uma causa grave ele passa por um conselho disciplinar com 7 juízes que simbolizariam os sete deuses. Se confirmada sua culpa, a pessoa passará por um longo processo de arrependimento.


Julgamento do nobre Loras Tyrell (Finn Jones) acusado de relações homossexuais.

Na Igreja SUD também há os mesmos princípios que estão contidos na Bíblia, Livro de Mórmon, Doutrina & Convênios, Pérola de Grande Valor e ensinamentos de líderes modernos. Também há um conselho disciplinar onde a pessoa passará por um período de arrependimento.

7-Crise de Sucessão

 
Quando o rei Robert Baratheon foi morto por um javali em sua caça, houve uma crise sobre quem deveria sucedê-lo. Seu filho mais velho Joffrey Baratheon assumiu o trono mas, ele foi acusado (corretamente) de ser filho de outro homem. Isso desencadeou numa disputa pelo trono de ferro e vinganças familiares.

Iniciou a Guerra dos 5 reis com Joffrey Baratheon "filho" de Robert , Robb Stark que era rei do norte em busca de vingar o assassinato de seu pai Ned Stark, Stannis e Rely Baratheon como irmãos de Robert revindicavam o trono e por último Balon Greyjoy que era rei das Ilhas de Ferro queria se libertar do jugo de King's Landing.



Joffrey, Robb, Stannis, Renly e Balon

Em 1844 com o falecimento de Joseph Smith Jr. vários homens queriam o direito de presidir a Igreja. James Strang um converso alegava ter uma suposta carta que Joseph o colocava como sucessor. Sidney Rigdon reclamou como 1º Conselheiro de Joseph. Outros apoiavam seu filho Joseph Smith III e outros o Apóstolo mais velho Brigham Young. Dessa crise surgiram outras denominações mórmons que reclamam ser a original e única correta.

8-Um Profeta

O Alto Pardal era um plebeu que era caridoso com os mais simples. Por sua coragem e seus seguidores tiraram o Alto Septão (uma espécie de bispo) da liderança do Septo por algumas condutas errôneas. A rainha Cercei o colocou como Septão e ele com seus soldados da "fé militante" se tornou um profeta para A Fé dos Sete em King's Landing.


Alto Pardal (Jonathan Pryce)

Como mencionado no item 4, mórmons tem um profeta chamado Thomas S. Monson. Ao contrário do Septão de King's landing, há um processo de sucessão que é dado pelo apóstolo mais velho de tempo no quórum (grupo).


9-Todos os homens devem servir
 
O povo da cidade de Braavos tem dois ditados:

Uma pessoa diz: "Valar morghulis"!
Outra pessoa dá como contra-resposta: "Valar dohaeris"


Na língua valiriana elas significariam "todos os homens devem morrer" e "todos os homens devem servir". Morrer para esse mundo e servir ao "deus de muitas faces".



Dentro da cultura SUD a morte tem um significado importante como umas passagem para um outro plano, conhecido como mundo espiritual. Todos os homens [e mulheres] devem morrer. Também todos devem servir, ao Senhor ou ao próximo. Segundo a escritura do Livro de Mórmon em Mosias 2:17 diz que "quando alguém serve seu próximo, está a serviço de seu Deus". Também desde jovens os garotos tem como meta servir uma missão de tempo integral.


10-O Patriotismo

Por último e não menos importante o patriotismo. Todo o povo de Westeros é bem patriota e ama seu reino. Dos 7 reinos os mais apaixonados por suas terras são os das Ilhas de Ferro e os de Dorne. O povo da Ilha de Ferro se considera separado tendo uma religião própria onde cultuam o "deus Afogado". Realizam uma espécie de batismo e sempre dizem para seus companheiros ou quando alguém morre seu lema: "O que está morto não pode morrer"!
Os dorneanos talvez cheguem a um extremo maior. Não só as suas roupas que tem o símbolo do sol, mas canções, batalhas e sua vida é dada por Dorne. Oberyn Martell mesmo dizia que lutava pelo Reino de Dorne.


Oberyn Martell (Pedro Pascoal) e Ellaria Sand (Indira Varma) com trajes dorneanos.

Mórmons geralmente são muito patriotas independente de país. Mas os estadunidenses principalmente de Utah e Idaho são os que mais ama seu país. O maior exemplo é dado por Ezra Taft Benson no discurso "This Nation Shall Endure" declara que Constituição dos EUA é um documento divino em preparação para a pregação do evangelho. Até os tempos atuais ainda há mórmons dos Estados Unidos que se sentem em uma terra sagrada.


Ezra Taft Benson, um dos mórmons
mais patriotas e conservadores.

Por enquanto vou parando com as comparações entre GOT e os SUDs. De fato a estória contada na HBO não foi inspirada na Igreja. Mas, nem por isso deixa de ter suas semelhanças.

domingo, 11 de setembro de 2016

O Massacre de Mountain Meadows



Livro da historiadora Juanita Brooks 
sobre o terrível massacre.

Por Richard E. Turley Jr.
Diretor do Departamento de História e Família da Igreja
Tradução Marcelo Todaro

Este mês [setembro de 2007] marca o 150° aniversário de um terrível episódio na história de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Em 11 de setembro de 1857, cerca de 50 a 60 milicianos do sul de Utah, ajudados por aliados indígenas americanos, massacraram aproximadamente 120 emigrantes que viajavam em carroças para a Califórnia. O crime horrível, que poupou apenas 17 crianças de até seis anos, ocorreu em um vale montanhoso chamado Mountain Meadows, cerca de 35 milhas a sudeste de Cedar City. As vítimas, a maioria do Arkansas, estavam a caminho da Califórnia sonhando com um futuro brilhante.

Por um século e meio, o Massacre de Mountain Meadows tem chocado e angustiado quem toma ciência dele. A tragédia provocou profundo pesar nos parentes das vítimas, inflingiu dor e sentimentos de culpa coletiva nos descendentes dos perpretadores e nos Santos dos Últimos Dias em geral, provocou críticas contra a Igreja e levantou questionamentos dolorosos e difíceis. Como pôde isso ter acontecido? Como pôde ter havido participação de membros da Igreja em tal crime?

Dois fatos tornam o caso ainda mais difícil de compreender. Primeiro, nada que nenhum dos emigrantes aparentemente fez ou disse, mesmo que seja tudo verdade, chega perto de justificar suas mortes. Segundo, a grande maioria dos perpretadores levava uma vida decente e pacífica antes e depois do massacre.

Como qualquer episódio histórico, os fatos compreendendo os eventos de 11 de setembro de 1857 requerem compreensão das condições da época, mas apenas um breve resumo deles pode ser compartilhado em poucas páginas de um artigo nesta revista. Para uma leitura mais completa e documentada do evento, o leitor deve consultar o livro O Massacre de Mountain Meadows. [O livro, de autoria dos historiadores SUD Ronald W. Walker, Richard E. Turley e Glen M. Leonard, será publicado em breve pela Oxford University Press.]

Panorama histórico

Em 1857, um exército de cerca de 1500 soldados dos Estados Unidos marchava em direção ao Território de Utah, com mais que viriam em seguida. Nos anos anteriores, discórdias, falhas na comunicação, preconceitos e disputas políticas de ambos os lados criaram um crescente racha entre o território e o governo federal. Diante de tal retrospecto, é fácil ver que ambos os lados exageraram na reação — o governo enviou um exército para acabar com uma suposta traição em Utah e os membros da Igreja criam que o exército vinha para oprimi-los, compeli-los ou mesmo destrui-los.

Em 1858, esse conflito — posteriormente chamado de Guerra de Utah — foi resolvido através de uma conferência de paz e negociação. Uma vez que os milicianos de Utah e as tropas do exército dos EUA nunca chegaram a lutar em campo de batalha, a Guerra de Utah foi caracterizada como “sem sangue”. Mas a atrocidade em Mountain Meadows tornou-a longe de ser sem sangue.

Tal como as tropas estavam a caminho do oeste no verão de 1857, assim também estavam milhares de emigrantes. Alguns deles eram membros da Igreja convertidos indo para Utah, mas a maioria tinha a Califórnia como destino, muitos deles com grandes rebanhos de gado. A temporada de emigração trouxe muitas companhias de carroças a Utah, uma vez que os Santos dos Últimos Dias preparavam-se para o que acreditavam que seria uma invasão militar hostil. Eles já haviam sido violentamente expulsos do Missouri e de Illinois nas duas décadas anteriores e temiam que a história se repetisse.

Brigham Young, presidente da Igreja e governador do território, e seus conselheiros formaram políticas baseadas nessa percepção. Eles instruíram as pessoas a economizar grãos e a preparar-se para guardá-los nas montanhas caso precisassem fugir para lá quando as tropas chegassem. Sequer uma semente de grão deveria ser perdida ou vendida a mercadores ou emigrantes de passagem. As pessoas também estavam guardando munição e mantendo suas armas de fogo em ordem, e os milicianos do território foram postos em alerta para defender o território contra a aproximação das tropas, se necessário.

Essas ordens e instruções foram espalhadas para os líderes em todo o território. O Élder George A. Smith, do Quórum dos Doze Apóstolos, levou-as ao sul de Utah. Ele, Brigham Young e outros líderes pregaram ardentemente contra o inimigo que percebiam no exército que se aproximava e buscaram aliança com os índios para resistir às tropas.

Essas políticas de guerra exacerbaram as tensões e conflitos entre os emigrantes que iam em direção à Califórnia e os colonos Santos dos Últimos Dias conforme as caravanas passavam pelos assentamentos de Utah. Os emigrantes ficavam frustrados quando não conseguiam se reabastecer no território como esperavam. Tiveram dificuldades para comprar grãos e munição e seus rebanhos, alguns dos quais contendo centenas de cabeças de gado, tinham que competir com os rebanhos dos colonos pelo pasto e água limitados ao longo do caminho.

Algumas histórias tradicionais de Utah sobre o que ocorreu em Mountain Meadows incorporaram a alegação de que envenenamento também contribuiu para aumentar o conflito — os emigrantes do Arkansas teriam deliberadamente envenenado uma nascente e uma carcaça de boi próximos à cidade de Fillmore, no centro de Utah, causando doença e morte dentre os índios locais. De acordo com essa história, os índios enfureceram-se e seguiram os emigrantes até Mountain Meadows, onde teriam cometido a atrocidade sozinhos ou forçado hesitantes colonos Santos dos Últimos Dias a unirem-se a eles no ataque. A pesquisa histórica mostra que essas histórias não são precisas.

Embora seja verdade que parte dos rebanhos dos emigrantes estivesse morrendo ao longo do caminho, inclusive próximo a Fillmore, as mortes pareceram resultado de uma doença que afetou os rebanhos nas jornadas da década de 1850. Os humanos contraíam a doença dos animais infectados através de cortes, ferimentos ou pelo consumo da carne contaminada. Sem essa compreensão moderna, as pessoas suspeitavam que o problema tivesse sido causado por envenenamento.

A escalada da tensão

O plano de atacar a companhia de emigrantes foi originado dentre a liderança local da Igreja em Cedar City, que havia sido recentemente alertada de que as tropas federais poderiam entrar a qualquer momento através da passagem ao sul de Utah. Cedar City era a última cidade na rota para a Califórnia para o reabastecimento de grãos e suprimentos, mas ali também os emigrantes se frustraram. Produtos básicos não estavam disponíveis na loja da cidade e o dono do moinho cobrou um boi inteiro — um preço exorbitante — para moer algumas dúzias de medidas de grãos. Semanas de frustrações logo cobraram seu preço. Com a tensão crescendo, um dos emigrantes alegou possuir a arma que matou Joseph Smith. Outros ameaçaram unir-se às tropas federais contra os Santos dos Últimos Dias. Alexander Fancher, capitão da caravana dos emigrantes, repreendeu esses homens.

As afirmações daqueles homens muito provavelmente foram ameaças vazias feitas no calor do momento, mas, no ambiente em transformação de 1857, os líderes de Cedar City levaram as declarações daqueles homens a sério. O delegado da cidade tentou prender alguns dos emigrantes sob a alegação de intoxicação pública e blasfêmia, mas foi forçado a recuar. A companhia de carroças seguiu seu caminho para sair da cidade cerca de uma hora depois, mas os agitados líderes de Cedar City não estavam dispostos a deixar o assunto morrer. Planejaram chamar a milícia local para perseguir e prender os ofensores e talvez confiscar parte de seu gado. Carne e grãos faziam parte da comida que os Santos dos Últimos Dias pretendiam usar para sobreviver se tivessem que fugir para as montanhas quando as tropas chegassem.

O prefeito de Cedar City, o comandante da milícia e o presidente de estaca Isaac Haight descreveram o descontentamento contra os emigrantes e pediram permissão para chamar a milícia em um despacho expresso ao comandante distrital da milícia, William Dame, que vivia nas proximidades de Parowan. Dame era também presidente da estaca de Parowan. Após convencer um conselho a discutir o assunto, Dame negou o pedido. “Não dêem importância às ameaças deles”, escreveu ele no despacho de volta à Cedar City. “Palavras são como o vento: elas não injuriam ninguém. Mas se eles (os emigrantes) cometerem atos de violência contra os cidadãos, informem-me imediatamente e tais medidas serão adotadas para assegurar a tranquilidade”. [James H. Martineau, “The Mountain Meadow Catastrophy,” July 23, 1907, Church Archives, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints.]

Ainda querendo punir os emigrantes, os líderes de Cedar City então formularam um novo plano. Como não podiam usar a milícia para prender os ofensores, persuadiriam os índios Paiute para darem à companhia do Arkansas uma “lição”, matando alguns ou todos os homens e roubando seu rebanho. [John D. Lee, Mormonism Unveiled: The Life and Confessions of the Late Mormon Bishop, John D. Lee (1877), 219.]

O ataque foi planejado para uma parte da caravana para a Califórnia que fugiu por uma passagem estreita do cânion do Rio Santa Clara, várias milhas ao sul de Mountain Meadows. Essa área estava sob a jurisdição da milícia do Fort Harmony, liderada por John D. Lee, que foi convencido a participar do plano. Lee era também um “fazendeiro indígena” fundeado pelo governo federal para os índios Paiutes locais. Lee e Haight tiveram uma longa conversa durante a noite sobre os emigrantes, na qual Lee disse a Haight que acreditava que os Paiutes “matariam a todos, homens, mulheres e crianças” se fossem incitados a atacar. [Mormonism Unveiled, 220.] Haight concordou e os dois planejaram depositar toda a culpa pela matança aos pés dos índios.

Os normalmente pacíficos Paiutes relutaram quando foram apresentados ao plano pela primeira vez. Apesar de ocasionalmente assaltarem os estoques de emigrantes em busca de comida, não tinham tradição de ataques em larga escala. Mas os líderes de Cedar City prometeram-lhes uma pilhagem e os convenceram de que os emigrantes estavam alinhados com as tropas “inimigas” que matariam os índios junto com os colonos mórmons.

Em 6 de setembro, domingo, Haight apresentou o plano ao conselho de líderes locais que ocupavam posições eclesiásticas, civis e militares. O plano encontrou resistência dos que o ouviram pela primeira vez, produzindo um acalorado debate. Finalmente, o conselho de membros perguntou a Haight se ele havia consultado o Presidente Brigham Young a respeito. Respondendo que não, Haight concordou em enviar um mensageiro expresso a Salt Lake City com uma carta explicando a situação e pedindo orientação.

O cerco de cinco dias

Mas, no dia seguinte, pouco antes de Haight enviar a carta a Brigham Young, Lee e os índios fizeram um ataque prematuro ao campo de emigrantes em Mountain Meadows ao invés de no local planejado no cânion de Santa Clara. Vários dos emigrantes foram mortos, mas os que sobraram resistiram ao ataque, forçando um recuo. Os emigrantes rapidamente organizaram seus carroções em círculo, protegendo-se dentro dele. Dois outros ataques ocorreram nos dois dias seguintes dos cinco que durou o cerco.

Após o ataque inicial, dois milicianos de Cedar City, julgando ser necessário conter a volatilidade da situação, atiraram em dois cavaleiros emigrantes descobertos poucas milhas fora do círculo. Eles mataram um dos cavaleiros, mas o outro escapou e voltou para o círculo, levando a notícia de que os matadores de sua companhia eram homens brancos, não índios.

Os conspiradores foram apanhados em sua teia de enganos. Seu ataque aos emigrantes tinha falhado. Seu comandante militar logo saberia que eles tinham grosseiramente desobedecido suas ordens. Um despacho havia sido enviado a Brigham Young em Salt Lake City. Uma testemunha do envolvimento dos brancos havia espalhado a notícia dentre os emigrantes. Se os emigrantes sobreviventes fossem libertados e seguissem seu caminho para a Califórnia, logo se espalharia a notícia de que os mórmons estavam envolvidos no ataque. Um exército já se aproximava do território e, se a notícia de sua participação no ataque chegasse a eles, criam os conspiradores, resultaria em ação militar retaliatória que ameaçaria suas vidas e as vidas de seu povo. Além disso, esperava-se para qualquer dia a chegada de outras caravanas de emigrantes para a Califórnia em Cedar City e depois a Mountain Meadows.

Ignorando a decisão do conselho

Em 9 de setembro, Haight viajou a Parowan com Elias Morris, um dos dois capitães da milícia e seu conselheiro na presidência da estaca. Novamente, pediram permissão a Dame para convocar a milícia e, novamente, Dame reuniu o conselho de Parowan, que decidiu que homens deveriam ser enviados para ajudar os combalidos emigrantes a prosseguir em seu caminho em paz. Posteriormente, Haight lamentou: “Eu daria um mundo, se o tivesse, se tivéssemos sustentado a decisão do conselho”. [Andrew Jenson, notas da conversa com William Barton, Jan. 1892, arquivo Mountain Meadows, Jenson Collection, Church Archives.]

Ao invés, quando a reunião terminou, Haight e seu conselheiro encontraram Dame sozinho e compartilharam com ele informações que não tinham dito ao conselho: os emigrantes encurralados provavelmente sabiam que homens brancos estavam envolvidos nos ataques iniciais. Essa informação levou Dame, agora isolado do moderado consenso de seu conselho, a repensar sua decisão anterior. Tragicamente, ele cedeu. Quando a conversa terminou, Haight achou que tinha sua permissão para usar a milícia.

Na chegada a Cedar City, Haight imediatamente convocou duas dúzias de milicianos, a maioria policiais, para juntar-se aos que já esperavam próximo ao acampamento dos emigrantes em Mountain Meadows. Aqueles que haviam deplorado a violência contra seu próprio povo no Missouri e em Illinouis estavam agora prestes a virtualmente seguir o mesmo padrão de violência contra outros, mas em escala mortal.

O massacre

Na sexta-feira, 11 de setembro, Lee entrou no acampamento dos emigrantes com uma bandeira branca e, de certa forma, convenceu-os a aceitar termos perigosos. Ele lhes disse que a milícia os escoltaria em segurança na passagem pelos índios de volta a Cedar City, mas tinham que deixar para trás seus bens e entregar as armas, sinalizando aos índios suas intenções pacíficas. Os desconfiados emigrantes debateram o que fazer, mas, no fim, aceitaram os termos, já que não tinham alternativa melhor. Estavam sitiados há dias, com pouca água, os feridos estavam morrendo e não tinham munição suficiente para suportar mais um ataque.




Como combinado, as crianças mais novas feridas deixaram o acampamento primeiro, levadas em dois carroções, seguidos pelas mulheres e crianças que podiam andar. Os homens e garotos mais velhos ficaram por último, cada um escoltado por milicianos armados. A procissão marchou por cerca de uma milha até que, num sinal previamente combinado, cada miliciano virou-se e atirou no emigrante próximo a ele, enquanto os índios saíram de seus esconderijos para atacar as aterrorizadas mulheres e crianças. Os milicianos que acompanhavam os dois primeiros carroções mataram os feridos. Apesar dos planos de culpar os Paiutes pelo massacre — e dos persistentes esforços posteriores em fazê-lo —, Nephi Johnson depois susteve que seus companheiros milicianos foram responsáveis pela maior parte da matança.

Comunicado tardio

A mensagem expressa de resposta do Presidente Young a Haight, datada de 10 de setembro, chegou em Cedar City dois dias depois do massacre. Sua carta relatava notícias recentes de que não havia tropas do exército americano em condições de alcançar o território antes do inverno. “Portanto, vejam que o Senhor respondeu nossas preces e, novamente, evitou a desgraça concebida para cair sobre nossas cabeças”, escreveu ele.

“No que diz respeito às caravanas de emigrantes passando por nossos assentamentos”, prosseguiu Young, “não devemos interferir nelas antes de serem notificadas a seguirem seu curso. Vocês não devem se meter com elas. Esperamos que os índios façam o que acharem melhor, mas vocês devem tentar preservar um bom relacionamento com eles. Não há outras caravanas indo para o Sul, que eu saiba. (…) Os que estão lá devem deixá-los ir em paz. Apesar de precisarmos estar alertas e sempre prontos, devemos também possuir a nós mesmos com paciência, preservando-nos e tendo sempre em mente os mandamentos de Deus.” [Brigham Young to Isaac C. Haight, Sept. 10, 1857, Letterpress Copybook 3:827–28, Brigham Young Office Files, Church Archives.]

Quando Haight leu as palavras de Young, chorou como criança e só conseguiu dizer as palavras “tarde demais, tarde demais”. [James H. Haslam, entrevista por S. A. Kenner, relatado por Josiah Rogerson, Dec. 4, 1884, material impresso, 11, em Josiah Rogerson, Transcripts and Notes of John D. Lee Trials, Church Archives.]

Consequências

As 17 crianças sobreviventes, consideradas “novas demais para contar histórias”, foram adotadas por famílias locais. [John D. Lee, “Lee’s Last Confession,” San Francisco Daily Bulletin Supplement, Mar. 24, 1877.] Representantes do governo resgataram as crianças em 1859 e as devolveram aos membros de suas famílias no Arkansas. O massacre ceifou cerca de 120 vidas e afetou irremediavelmente as vidas das crianças sobreviventes e de seus parentes. Um século e meio depois, o massacre permanece sendo um assunto profundamente doloroso para seus descendentes e outros parentes.

Embora Brigham Young e outros líderes da Igreja em Salt Lake City tenham sabido do massacre logo após o ocorrido, a percepção da extensão do envolvimento dos assentados e os terríveis detalhes do crime só chegaram aos poucos ao longo do tempo. Em 1859, eles desobrigaram de seus chamados o presidente de estaca Isaac Haight e outros proeminentes líderes da Igreja em Cedar City que tiveram participação no massacre. Em 1870, excomungaram Isaac Haight e John D. Lee da Igreja.

Em 1874, um juri territorial acusou judicialmente nove homens por sua participação no massacre. A maioria deles eventualmente foi presa, embora apenas Lee tenha sido julgado, condenado e executado pelo crime. Outros acusados tornaram-se provas do Estado e outros ficaram foragidos da lei por muitos anos. Outros milicianos que participaram do massacre lutaram pelo resto de suas vidas contra um terrível sentimento de culpa e tiveram pesadelos recorrentes por causa do que fizeram e testemunharam.

As famílias dos homens que planejaram o crime sofreram com o ostracismo imposto por seus vizinhos ou com alegações de que maldições haviam caído sobre eles. Por décadas, os Paiutes também sofreram injustamente, pois muitos os consideravam culpados pelo crime, chamando-os e a seus descendentes de “quemiadores de carroções”, “selvagens” e “hostis”. O massacre tornou-se uma mancha indelével na história da região.

Hoje, alguns dos descendentes das vítimas do massacre e seus parentes são Santos dos Últimos Dias. Esses indivíduos estão em uma posição incomum, pois sabem como é ser um membro da Igreja e também um parente de vítima.

James Sanders é bisneto de Nancy Saphrona Huff, uma das crianças que sobreviveram ao massacre. “Ainda sinto dor; ainda sinto raiva e tristeza por causa do massacre”, disse o irmão Sanders. “Mas sei que as pessoas que fizeram isso responderão perante o Senhor e isso me traz paz”. O irmão Sanders, que serve como consultor de história da família em sua ala no Arizona, disse que saber que um ancestral seu foi morto no massacre “não afeta minha fé, pois ela é baseada em Jesus Cristo, não em nenhuma pessoa da Igreja”.

Sharon Chambers, de Salt Lake City, é bisneta da sobrevivente Rebecca Dunlap. “As pessoas que fizeram isso perderam seu rumo. Não sei o que havia em suas mentes ou em seus corações”, disse ela. “Sinto pesar pelo que aconteceu a meus ancestrais. Também sinto pesar pelo fato de haver quem culpe todo um grupo, ou toda uma religião, pelos atos de alguns”.

O Massacre de Mountain Meadows tem causado dor e controvérsia por 150 anos. Nas últimas duas décadas, os descendentes e outros parentes dos emigrantes e dos perpretadores têm às vezes trabalhado juntos para preservar a memória das vítimas. Esses esforços tiveram o apoio do Presidente Gordon B. Hinckley [décimo-quinto presidente da Igreja, falecido em janeiro de 2008], representantes do Estado de Utah e de outras instituições e indivíduos. Dentre os frutos dessa cooperação estão a construção de dois memoriais no local do massacre e a colocação de placas em homenagem aos emigrantes do Arkansas. Grupos de descendentes, líderes e membros da Igreja e autoridades civis continuam a trabalhar pela reconciliação e participarão de vários serviços memoriais neste mês em Mountain Meadows.


Placa Memorial sobre as vítimas do massacre.

terça-feira, 12 de julho de 2016

"Deus abençoe a América": Mórmons

   

O movimento surgiu com o jovem Joseph Smith Jr. (1805-1844) em Palmyra-New York quando com 14 anos, afirmou ter tido "uma visão onde Deus e Jesus Cristo apareceram a ele", o comissionando a restaurar o cristianismo originalmente perdido. Posteriormente traduziu de umas placas contendo a história de um povo nas Américas e assim surgiu o Livro de Mórmon. Desse livro surgiu o apelido "mórmon" entre os protestantes. A Igreja de  Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi organizada em 06 de abril de 1830 em Fayette, New York.


"O Profeta Americano", por Del Parson

Réplica da casa de Peter Whitmer onde ocorreu a primeira reunião SUD.

Algumas crenças:

-Creem que as famílias podem ser eternas.

-Creem que a Bíblia é palavra de Deus desde que esteja traduzida corretamente.
-Creem no Livro de Mórmon como escritura comparável a Bíblia.
-Creem em revelação contínua, ou seja, que ainda há revelações através de líderes locais ou mundiais.

Sobre o contexto histórico os adventistas do sétimo dia relembram como estava o estado de New York:

"No início do século 19, o nordeste dos EUA foi um celeiro de avivamento. O chamado Segundo Grande Despertar inflamou movimentos religiosos, como: os Shakers, os primeiros mórmons, os precursores das Testemunhas de Jeová, os Mileritas e uma série de outras ramificações excêntricas. Na verdade, o estado de Nova Iorque foi apelidado de "queimado pelo distrito", referindo-se ao fato de que os evangelistas haviam esgotado as ofertas de pessoas não convertidas".[1]

Devido a várias perseguições do estado de New York no leste foram migrando rumo ao oeste. Isso os fez passar por vários estados como Ohio, Missouri e Illinois onde as perseguições e problemas locais não cessaram. Joseph Smith Jr. foi assassinado em 27 de junho de 1844 em Cartage, Illinois. Em fevereiro de 1846 os mórmons migraram rumo ao oeste onde ainda era território mexicano. 

"Os líderes da Igreja falavam, desde pelo menos 1834a respeito da mudança dos santos para o oestenas Montanhas Rochosas, onde poderiam viver em paz. Com o passar dos anos, começaram a conversar com exploradores a fim de identificar lugares realmente viáveis para a mudança dos santos, além de examinar mapas visando encontrar o local adequado para se estabelecerem. Por volta do fim do ano de 1845os líderes da Igreja possuíam as informações mais atualizadas possíveis sobre o oeste. Como as perseguições em Nauvoo intensificaram-se, tornou-se evidente que os santos teriam de partir. Em novembro de 1845, os habitantes de Nauvoo já estavam em intensa atividade, fazendo os preparativos para a viagem".[2] [ênfases nossa]

"A evacuação de Nauvoo foi planejada originalmente para abril de 1846, mas em conseqüência das ameaças da milícia estadual de impedir que os santos fossem para o oeste, os Doze Apóstolos e outros líderes da comunidade reuniram-se às pressas no dia 2 de fevereiro de 1846. Concordaram, então, que seria imperioso iniciar a viagem para o oeste imediatamente, e o êxodo começou em 4 de fevereiro. Sob a direção de Brigham Young, o primeiro grupo de santos iniciou entusiasticamente sua jornada. Entretanto, esse entusiasmo enfrentou grandes testes, pois havia muitos quilômetros a serem percorridos antes de poderem descansar do inverno prolongado e de uma primavera excepcionalmente chuvosa em acampamentos permanentes".[3] [ênfases nossa] 




Pioneiros mórmons fugindo de Nauvoo, Illinois.
Fundadores da cidade que hoje é um sítio histórico da Igreja SUD.


Trajeto percorrido pelos pioneiros mórmons. Na ocasião não existiam os estados do oeste.
O Texas era uma república e onde estão os estados vizinhos era território mexicano.

Chegaram ao Vale do Lago Salgado (Salt Lake Valley) em 24 de julho de 1847 onde hoje está situado o estado de Utah. Para o "azar" dos pioneiros em 6 meses o território seria anexado aos EUA. Durante mais de 38 anos em meio a uma guerra fria com o governo, finalmente em 04 de janeiro de 1896 entraram para a União dos Estados Unidos da América. Como falou a jornalista Ana Paula Padrão ao iniciar uma reportagem sobre os mórmons:

"No oeste americano a história de uma cidade se confunde com a de uma religião".[4]



Salt Lake City, Utah.

A cultura norte-americana é fortíssima dentro do mormonismo. Ezra Taft Benson (1899-1994) sobre a declaração da Independência dos EUA escreveu:

"Essa nação é diferente de qualquer outra. Ela nasceu de forma única. Teve seu início quando cinquenta e seis homens assinaram a Declaração de Independência. Sei que há alguns que veem essa declaração apenas como um documento político. Ela é muito mais do que isso. Ela constitui um manifesto espiritual, declarando não apenas para essa nação, mas para todas as nações, a fonte dos direitos dos homens".[5] [ênfases nossa]



Presidente Ezra Taft Benson,
Republicano, conservador, anti-comunista e um exímio patriota.

Recentemente na Conferência Geral de abril de 2016, o Elder Jairo Mazzagardi em seu discurso intitulado "O Sagrado Local da Restauração" falou sobre sua experiência e dúvida sobre o porquê o evangelho seria restaurado nos Estados Unidos:

"Tendo morado como imigrante legal na costa leste dos Estados Unidos por alguns anos, eu conhecia algumas das cidades dali, sabendo que eram, em sua maioria, bem pequenas.

Cada vez que lia ou ouvia falar algo sobre os acontecimentos que culminaram na Primeira Visão, multidões de pessoas eram mencionadas, o que não fazia sentido para mim.

Começaram a surgir dúvidas em minha mente. Por que a Igreja tinha de ser restaurada nos Estados Unidos, e não no Brasil ou na Itália, a terra dos meus antepassados?

Onde estavam aquelas multidões de pessoas que estavam envolvidas no reavivamento espiritual e na confusão de religiões; e tudo isso acontecera em um lugar tão tranquilo e calmo?

Fiz muitas perguntas a muitas pessoas, mas não obtive respostas. Li tudo o que pude encontrar em português e depois em inglês, mas não encontrei nada que pudesse acalmar meu coração. Continuei a pesquisar.

Em outubro de 1984, fui para uma conferência geral sendo conselheiro na presidência de uma estaca. Depois disso, fui a Palmyra, Nova York, ansioso por encontrar uma resposta.

Ali chegando, tentei entender: Por que a Restauração precisava ter sido ali, e por que tamanho alvoroço espiritual? De onde tinham vindo todas aquelas pessoas mencionadas no relato de Joseph? Por que naquele lugar?

Na época, a resposta mais razoável para mim era porque a constituição dos Estados Unidos garantia liberdade".[6] [ênfases nossa]

Conforme Emanuel Santana explica como a história bíblica foi misturada a história estadunidense para Joseph Smith Jr.:

"Em uma época em que forças racionalistas começavam a olhar para episódios da Bíblia como metáforas, Joseph insistiu em um literalismo bíblico, trouxe à luz mais elementos fantásticos e sacralizou o tempo e espaço quando e onde viveu.

A Torre de Babel não apenas existiu, mas teve consequências para a colonização da América. Moisés e Elias não somente são reais como apareceram para o profeta mórmon.

Apesar de Abraão nunca ter saído do Oriente Médio, Jesus andou por aqui, e Adão era americano. Ao ensinar que o Jardim do Éden se localizava nos EUA e que a Nova Jerusalém também será por lá, Smith apresenta seu país como palco de eventos contidos desde o Gênesis ao Apocalipse. A teologia de Joseph fez de seus seguidores novos israelitas".[11]

Entre os mission
ários é dado os seguintes conselhos para ensinar e protegerem-se:

"Ajude as pessoas a reconhecerem que a Igreja não é simplesmente mais uma religião, e também não é uma igreja americana".[7]


"Em alguns países poderá ser necessário evitar locais ou instituições associadas aos Estados Unidos da América. Missionários dos Estados Unidos da América devem evitar áreas onde grandes grupos de pessoas têm sentimentos antiamericano".[8]

No Brasil a Igreja começou na cidade de Rio das Antas, Santa Catarina, mais precisamente no Distrito de Ipoméia. Uma família de imigrantes alemães haviam se filiado a Igreja antes de vir morar aqui no Brasil. Os primeiros missionários chegaram nos anos de 1927-1928 e aprenderam primeiramente o alemão. Em 1939 através de uma lei do então presidente Getúlio Vargas foi proibido manifestações que fizessem alusão ao nazismo, incluindo cerimônias religiosas em alemão.[9] 


Pioneiros mórmons  na região de Ipoméia. O local é o berço do mormonismo no Brasil.


Templo de São Paulo dedicado em 1978. Foi o primeiro da América do Sul.

No Brasil é impossível não associar os missionários aos Estados Unidos. A simples palavra "mórmon" já lembra "loiros dos olhos azuis falando enrolado". Até hoje em dia há uma surpresa de muitos ao conhecerem um(a) missionário(a) brasileiro(a) ou de outro país sul-americano. Conforme comenta apologista mórmon Daniel C. Peterson:

"E o que poderia ser mais americano do que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, largamente conhecida por seus recém-escovados, ingênuos, missionários de dezenove anos de idade, nativos em sua maioria do oeste americano?"
[10]  
  

A sede da Igreja fica na capital de Utah, Salt Lake City. O que o Vaticano representa para os católicos essa cidade representa para os membros sejam brasileiros ou estrangeiros. Afinal, o estado é conhecido popularmente como "o estado mórmon" ou "a fábrica"(?). 



Templo de Salt Lake City. O principal templo SUD e símbolo da cidade e religião.

Emanuel Santana listou algumas influências culturais estadunidenses ou doutrinárias[11]:

Café e chimarrão:
Mórmons não ingerem café conforme mandamento. A bebida é a mais tradicional do brasil sendo o nosso desjejum popularmente chamado de "café da manhã". Porém, há relatos de que até o chimarrão era as vezes enquadrado na lei de saúde.

Debutantes com 16 anos: No Brasil temos a tradição vinda da Europa de uma moça festejar seu 15 anos o que muitas vezes é feita uma festa de gala com a moça de vestido de princesa. Nos EUA o equivalente a isso seriam o "sweet sixteen" (doce dezesseis). Aos rapazes e moças é aconselhado a namorar apenas após aos 16 anos.[12] Com isso a data é esperada com ansiedade tanto por moças como rapazes. Os 15 anos são esquecidos e o que interessa mesmo são os 16.[13]

Carnaval não, Halloween sim: De tradição pagã, a festa popular brasileira pode ser m ais antiga que pensamos. Há quem diga que a origem se deu na festividade gregas para o deus Dionísio, onde bebiam vinho e faziam toda a promiscuidade. Já outros dizem que sua origem vem dos antigos egípcios. Independente disso a versão brasileira não agrada grupos cristãos conservadores. Os católicos e evangélicos vão para retiros espirituais. Já os rapazes e moças vão para acampamentos para saírem do mundanismo que essa festa trás.

Mas, curiosamente o "dia das bruxas" não é condenado aqui pelos membros. Protestantes reformados veem a  data como uma ofensa, pois, o monge alemã Martinho Lutero (1483-1546)pregou suas 95 teses em 31 de outubro de 1517. O nacional é visto como indecente e o americano como algo cultural.[14]

Expressões, sotaques e trejeitos: Um seminarista católico geralmente pode ter aquele jeitinho italiano de falar. Um clérigo neo-pentecostal poderá ter a mesma maneira de interagir que Edir Macedo ou Valdemiro Santiago. Entre os missionários mórmons há um pouco disso aqui no Brasil. Algumas palavras como "chic", "trunk", "freak" ou em algumas missões o indelicado "fag". Já o título dos homens é "Elder" (ancião) e o das missionárias "Sister", o que é aprendido quando ainda criança.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é considerada por alguns historiadores da religião, a primeira religião estadunidense. Para mim, a mais "americana" de todas as religiões.



Pato Donald e Zé Carioca representando os esteriótipos estadunidense e brasileiro.

Referências:

[1] https://www.adventist.org/pt/informacoes/historia/artigo/go/-/a-igreja-adventista-do-setimo-dia-surgiu-a-partir-do-entusiasmo-religioso-do-seculo-19/

[2] NOSSO LEGADO Resumo da História de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, p. 69
[3] IDEM p. 70

[4] "América: Império da Fé", reportagem SBT-Brasil 10 de novembro de 2006.
[5] "This Nation Shall Endure", Ezra Taft Benson, publicado em 1977. Traduzido por João Henrique Pereira.
[6] https://www.lds.org/general-conference/2016/04/the-sacred-place-of-restoration?lang=por
[7] Manual "Pregar Meu Evangelho", p. 07.
[8] Manual Missionário, p. 55.
[9] https://vozesmormons.org/2015/12/18/a-mudanca-de-lingua-na-missao-brasileira-1939/
[10] http://www.fairmormon.org/perspectives/fair-conferences/2005-fair-conference/2005-reflections-on-secular-anti-mormonism
[11] https://vozesmormons.org/2015/04/07/god-bless-america/
[12] https://www.lds.org/youth/for-the-strength-of-youth/dating?lang=por
[13] https://www.youtube.com/watch?v=pC0lH2wPCmM
[14] http://mocasestacaitaquera.blogspot.com.br/2011/12/baile-de-halloween.html